O grande neurologista e também escritor Oliver Sacks, de 81 anos, anunciou recentemente ter câncer terminal. Esta notícia me deixou um sentimento de saudade, uma vez que Sacks, apesar de seus 81 anos, continua muito produtivo. Seus livros são traduzidos no mundo inteiro, sua contribuição para a neurociência tem sido muito significativa, e até o filme “Tempo de Despertar” de 1991, foi resultado de uma obra dele. Com tanta contribuição para o mundo, acho natural já sentir uma certa saudade prematura de alguém que contribuiu e ainda vem contribuindo tanto para a humanidade. Mas fica a pergunta : estamos prontos para morrer ?

Estar pronto para morrer talvez não seja o termo mais adequado, uma vez que na maioria esmagadora das vezes, o ser humano não deseja a morte e por isto nunca está realmente preparado para morrer. Mas não trago esta questão no sentido de ter medo da morte ou no sentido de acreditar em algo além da vida, o que aliás, acredito. Penso nesta questão no sentido do desapego.

Meu professor de Psicanálise, com muita sabedoria, nos diz que este corpo não é nosso, nossos filhos não são nossos, nossos cônjuges não são nossos, nossos pais não são nossos, e que na verdade tudo isto que recebemos é emprestado. E ao analisarmos por esta ótica, se não é nosso e sim emprestado, o desapego é mais fácil. Com este olhar, podemos levar uma vida mais leve e com menos sofrimento, pois se não é nosso, é passageiro, efêmero, muitas vezes circunstancial.

E esta saudade ao saber da morte do Oliver Sacks me vem porque ao anunciar para o mundo de sua fase terminal da doença, ele escreveu um texto muito comovente. Ele agradeceu. Disse ter extrema gratidão em relação à vida, como traduzido abaixo :

“Mas meu sentimento predominante é o de gratidão. Eu amei e fui amado; recebi e dei em troca; li e viajei e refleti e escrevi. Eu tive um relacionamento com o mundo, o tipo de relacionamento especial que os escritores e leitores tem. Acima de tudo, eu fui um ser sensível, um animal pensante, nesse lindo planeta, e isso em si mesmo tem sido um grande privilégio e uma aventura”.

Que maneira mais bonita de refletir sobre a vida ! Agradecer por tudo, reconhecer o amor, os momentos em que deu e recebeu, em que refletiu, escreveu… como é bonito termos este sentimento quando estamos próximos da partida !

Outra coisa que me chamou a atenção é que ele disse que agora pode não se importar com coisas que pertencem ao futuro, como o aquecimento global e a desigualdade social. Pode sim, porque imagino que vá aproveitar seus momentos fazendo o que ama ao lado das pessoas que ama. Mas como é bonito ver alguém nos seus momentos finais ainda pensando no todo, em algo tão coletivo e empático como o aquecimento global e a desigualdade social.

Oliver Sacks fará falta porque não pode ser substituído. E aqui está o grande segredo : ninguém pode ! Todos nós somos únicos e por isso especiais. Todos nós temos a oportunidade de deixar um grande legado e belos exemplos. E você : está pronto para morrer ?

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