Atendo casais há mais de 10 anos. Geralmente um dos cônjuges me procura para perguntar sobre a terapia de casal. Em alguns casos, ambos querem vir. Em outros, somente uma das partes quer realmente fazer terapia, a outra viria por consideração ou às vezes obrigação. E acontece também de somente uma das partes querer vir, já lamentando porque a outra parte não quer. Como resolver esta questão ?

Acredito que seja muito importante que ambos queiram vir pra terapia de casal e esta é uma pergunta muito importante que faço antes de iniciarmos os trabalhos. Se uma das partes não quer vir, eu faço o trabalho com quem quer, pois vir obrigado à terapia não vai gerar bom resultado. Invisto então na terapia individual da parte que está interessada em resolver seus conflitos conjugais.

A terapia de casal é um espaço dos dois, é preciso que ambos queiram estar ali para o processo fluir, é preciso que ambos tenham o comprometimento com o trabalho e compreendam que estão ali para melhorar a relação, tendo humildade para admitir seus erros, omissões, teimosias, orgulhos e tudo o mais que existe numa relação a dois que gera conflito.

Uma outra pergunta muito importante é se ambos têm o mesmo objetivo quando buscaram a terapia. Pode ser que um lado queira salvar o casamento e o outro não. Neste caso, também não há por quê dar prosseguimento ao atendimento do casal. A terapia não existe como ferramenta de convencimento. Ela propicia o auto conhecimento dos dois, o que exige humildade de ambas as partes para estarem ali.

Pode ser que ambos concordem em pôr fim à relação e neste caso procuram a terapia de casal para que o processo seja o menos traumático possível para todos os envolvidos, seja o próprio casal, seus filhos ou familiares próximos. Desejam romper com civilidade e bom senso a fim de preservarem uma relação que mesmo desfeita, ainda gerará muitos encontros por causa de seus filhos.

A terapia de casal é principalmente um lugar de escuta, não deveria ser um lugar de acusações, o que infelizmente também acontece. Dependendo da maturidade do casal, eles aproveitam aquele espaço para se colocarem, pois precisam ser ouvidos e compreendidos. Uma das maiores queixas de todos é a falha na comunicação, a distorção ou incompreensão do que é dito. Lacan já disse com sabedoria : “Você pode saber o que disse, mas nunca o que outro escutou”.

É muito comum acontecer na terapia de casal que um cônjuge diga algo que surpreende o outro. Isto acontece porque as pessoas pensam que conhecem as outras mas sempre há algo novo a ser descoberto. Por vezes fazem inferência, achando que sabem como o outro pensa e sente, e se espantam quando ouvem do próprio cônjuge que o motivo de sua insatisfação é bem diferente do que se supunha.

Quando ambos vêm de coração aberto para a terapia de casal, um processo lindo acontece : um ouve melhor o outro, desenvolve a empatia, compreende os anseios de seu cônjuge e não raro, compreende melhor seus próprios anseios. Percebem que em nome de relação, podem ter se anulado. Em nome da família, priorizam os filhos e esquecem de si mesmos. Na rotina e no desgaste do dia a dia, não se conversam mais, há tempos deixaram de se ouvir e vão tocando em frente em nome de algo que um dia chamaram de amor.

Com o decorrer da terapia, saem do seu egoísmo, relembram por quê se apaixonaram e como desejaram tanto estarem juntos em sua caminhada com o firme propósito de fazerem a outra parte feliz, mas que no decorrer dos anos, buscaram apenas sua própria felicidade.

Terapia de casal funciona quando ambos têm o propósito de crescer na relação, de perdoar e ser perdoado, de calçar os sapatos do outro para entender suas angústias e seus conflitos. É quando voltam a sonhar os mesmos sonhos, voltam a ter admiração mútua e conseguem agradecer ao cônjuge por sua parceria na caminhada chamada VIDA.

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