Quando eu estava no colegial (atual ensino médio), fiz um intercâmbio para os Estados Unidos. Me lembro bem de uma carta que recebi de um amigo com a linda poesia do Pessoa, que começava assim : “Viajar, perder países, ser outro constantemente…” http://www.fpessoa.com.ar/poesias.asp?Poesia=062

A poesia é linda, e ela me ocorreu agora porque estamos terminando um período de férias. Quanta pessoas viajaram, quantas pessoas conheceram lugares novos, pessoas novas, culturas novas… e quantas ficaram em suas casas, mas puderam usufruir de uma cidade mais vazia, de um trânsito mais calmo, quem sabe, viajar para dentro de si…

Viajar é sempre muito bom. Ter a mente aberta, estar conectado a um lugar novo, entender os valores daquele lugar, os costumes das pessoas… perceber como somos diferentes ! Me lembro de uma senhora que tinha muitos problemas, e por isso foi aconselhada que viajasse um pouco, mudasse os ares, para que se desligasse um pouco de tudo. A resposta tinha uma sabedoria : “Viajar pra quê? Onde eu for eu levo eu.”

Pois é, sempre nos levamos, pode ser que os problemas sigam com a gente, pode ser que na viagem consigamos nos esquecer deles por alguns dias, porque na volta eles estarão lá. Mas me ocorre que a volta pode ser enriquecedora, quem sabe olhar com outros olhos os mesmos problemas não seja revelador ?

Acompanhei as estradas do Brasil nestas férias, os aeroportos lotados, malas perdidas, trânsitos caóticos… será que assim é possível descansar ? Já ouvi dizerem que é bom voltar de viagem antes que as férias acabem para dar tempo de descansar. Quanta contradição !

Mas já que falei do viajar para dentro de si, pensei o quanto é raro fazermos isso… o dia a dia é muito corrido, o lazer está sempre comprometido com um passeio, um filme, um livro… o viajar para dentro de si me lembra um pouco o ócio criativo do Domenico de Masi. Nas palavras do próprio autor :

“Ociar não significa não pensar. Significa não pensar regrar obrigatórias, não ser assediado pelo cronômetro, não obedecer aos percursos da racionalidade e todas aquelas coisas que Ford e Taylor tinham inventado para bitolar o trabalho executivo e torná-lo eficiente.”

E quando estamos livres para pensar, viajamos pra dentro. Será que gostamos do que encontramos ? Será que somos coerentes e agimos como pensamos ? Será que defendemos nossos valores ou somos engolidos por eles ? O que mais gosto em mim ? O que menos gosto ? Como lido com as pessoas ao meu redor ? Consigo dar a atenção que elas merecem ? Consigo compreendê-las dentro de suas histórias ?

Estas são pequenas reflexões. Uma viagem, um livro, um passeio, o ócio… tudo pode ser motivo para olharmos mais para fora e mais para dentro, avaliarmos se estamos levando a vida como gostaríamos, ou se queremos, devemos e podemos mudá-la. Depende de cada um.

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