No meu trabalho como psicanalista clínica, encontro diversas pessoas com diversas histórias. Cada uma traz suas referências, sua bagagem, seus valores, seus defeitos e qualidades, o que faz de cada um, uma pessoa única e especial.
Acho interessante observar as tramas da vida, o que cada um busca, como cada um age ou reage, o que é importante para um e que para o outro não tem o mínimo valor. Quais são as prioridades de cada pessoa e o que cada um deseja para si, visando sua realização pessoal.
O que me encanta em tudo isso é como somos diferentes e como, frente a determinada situação, cada um age ou reage de alguma forma. Vejo uma filha que se ressente com seu pai, porque ele teve uma vida muito difícil, não teve uma retaguarda financeira de seus próprios pais e hoje entende que a filha deve passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, pois ele teve que batalhar pelo que conseguiu.
E então, nada mais justo que a filha também passe pelas mesmas dificuldades, mesmo ele sendo um pai que teria como lhe dar a retaguarda financeira que ele tanto desejou e não pôde receber de seus pais.
E vejo a mesma história em outro paciente, que tem um pai que também passou por dificuldades financeiras na vida, mas que ao se ver vencedor, proporcionou tudo para os filhos, pois ele entende que se seus filhos não precisam passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, já que hoje ele pode ajudá-los.
E aí cabe a pergunta : por que cada pai age de um jeito ? Evidentemente porque cada um tem uma história, tem suas dores, seus medos, suas conquistas, seus valores. Mas principalmente porque cada um tem um grau de consciência diferente. Enquanto um entende que os filhos devem passar pelas mesmas dificuldades que ele passou, o outro entende que os filhos podem ser poupados das mesmas dificuldades vividas por ele já que ele pode ajudá-los. E então, quem está certo ?
Não entendo que exista um certo ou errado, que um pai agiu de uma forma mais certa que o outro. Entendo sim que cada um deu o que pôde dar – e isto é o mais importante ! Não devemos desejar do outro o que ele não pode nos dar. Às vezes queremos um carinho, uma palavra de afeto, mas ela não vem…. o outro não sabe ser carinhoso e afetuoso. Noutras vezes queremos atenção, mas o outro está preocupado com outras questões, não entende que é importante dar seu tempo e sua atenção para quem precisa, ele não pode dar, porque de alguma forma não entendeu que isto seria importante, talvez também não tenha recebido atenção quando precisou.
E nós, que assistimos histórias assim ou mesmo as vivenciamos, podemos olhar com olhos de compaixão para o que não dá porque não tem pra dar ou não sabe dar, e entender que na trajetória dele ele não aprendeu a olhar para o outro, apenas para si mesmo, pois a vida foi difícil para ele, ou mais difícil do que ele poderia supor.
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