Quando eu tinha 15 anos, fui fazer colegial (atual ensino médio) numa escola nova, deixando para trás uma escola que frequentei por 6 anos, da 3a. à 8a. série.
Tive a felicidade de ter aula de literatura e redação com dois grandes mestres : Emília e Severino. Ficava maravilhada com as aulas deles, porque eu via que eles amavam o que ensinavam, estava no sangue deles a paixão pela escrita, pela leitura, e por poder lecionar.
“Vais encontrar o mundo, – disse-me meu pai, à porta do Ateneu” – como não lembrar desta frase dita pelo Severino ao nos falar sobre Raul Pompéia ? E como não compreender que naquela nova escola, meu mundo também crescia, se abria para novos ensinamentos, novas amizades, novos caminhos…
E como esquecer da Emília nos ensinando Bandeira, com o Madrigal tão engraçadinho :
“Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha
vida, inclusive o porquinho-da-índia que
me deram quando eu tinha seis anos.”
Passei grande parte da minha adolescência ali. Me apaixonei, tive o coração partido, fiz amigos, aprendi a beber cerveja, me encantei pelo teatro, aprofundei meu gosto pela literatura, gostei cada vez mais de Chico Buarque, curti Legião Urbana, fui de esquerda e votei no Roberto Freire no meu 1o. voto para presidente do Brasil. Trago memórias que rendem boas histórias até hoje.
De lá pra cá muita coisa mudou, mas lembro com carinho destas aulas e das pessoas que fizeram daquela fase da minha vida, uma fase tão especial. O livro “Escrever é desvendar o mundo”, da Emília e do Severino foi lançado naquela época, e trazia um pouco das nossas aulas. Foi lá que aprendi o que é Haikai, conheci Brecht, e li pela primeira vez um conto de realismo fantástico do Borges. Nossa, como aquilo foi marcante pra mim !
Estes dias a Emília publicou no Facebook um poema que escreveu na véspera da morte do Drummond. Bastou eu ler o poema para me transportar pra sala de aula, lembrando daquela época, do quanto tudo aquilo era fascinante para meu pequeno mundo que desabrochava.
Só a língua portuguesa tem a palavra saudade, e é muito difícil defini-la para quem não fala o português. Mas talvez, quem sabe, alguém lendo este texto, possa compreender um pouquinho do significado de saudade, possa sentir que saudade é uma lembrança boa que fica de momentos que não voltam mais…
Patrícia, a saudade é a mesma. Nem a gente sabia o quanto havia de “pequenas felicidades” naqueles dias em que aprendemos juntos sobretudo a con-viver. Sempre que encontro alguém daquela época, ela se presentifica: olhos brilhantes, corações abertos para os outros e o cosmos, numa palavra, Humanidade. Sempre que ela extrapola o que é medíocre e protocolar acontece um agora do qual morremos de saudade! Muito obrigada por suas palavras. Elas nos dão vontade de nunca jamais desistir. Beijo grande a todos vocês, nossos alunos imprescindíveis, que a voz da Patrícia evocou. Emília
Não devemos ser muito saudosistas, Emília, mas de fato aquela foi uma época mágica ! Trago lembranças muito boas dos anos vividos no Anglo, doa amigos que fiz, das experiências que vivi, de grandes professores, pessoas especiais que deixaram marcas em nossas vidas.
Obrigada por fazer parte desta minha história e por ainda compartilharmos – mesmo que distantes – de pequenas felicidades.
Com muito carinho,
Patrícia