Nos meios atendimentos em Psicanálise Clínica encontro diversos tipos de pacientes. Alguns vêm muito abertos, conscientes do que procuram, muitas vezes angustiados e em busca de uma ajuda para enfrentarem suas dificuldades. Outros nem tanto. Chegam buscando ajuda, mas ao mesmo tempo em que têm consciência de que uma ajuda é necessária, chegam defendidos, com pouca abertura para ouvirem verdades muitas vezes inconvenientes, e outras vezes com pouca disposição para se deixarem analisar, para que as origens do problema venham à tona e sejam identificáveis.
Nosso inconsciente é poderoso. Podemos dizer que estamos dispostos a resolvermos o problema, quando na verdade estamos apenas racionalizando, que num conceito simplista, seria inventar uma desculpa que mascara o que de fato está acontecendo.
Encontro pessoas que dizem estar tudo bem quando na verdade estão desmoronando por dentro. Isto elas não podem aceitar, embora aceitem de bom grado que buscaram ajuda na Psicanálise e por isso já deram o primeiro passo para a solução do problema.
É muito difícil olharmos para nós mesmos, admitirmos nossos erros, constatarmos que às vezes somos mais cruéis do que deveríamos, especialmente conosco. Também é muito difícil pedirmos perdão, aceitarmos a nossa culpa por algo que nem sempre tínhamos a intenção de fazer mas fizemos. E fizemos por quê ? Porque nosso inconsciente é mais poderoso do que pensamos, porque dizemos sim quando na verdade queríamos dizer não.
Existem algumas portas para nosso inconsciente : o sonho é uma delas, e uma porta muito rica, por sinal. Ali, realizamos o que reprimimos e recalcamos, nos permitimos prazeres e desejos ocultos. Por vezes colocamos outra pessoa em nosso lugar no sonho, e esta pessoa realiza tudo o que gostaríamos mas não conseguimos realizar. É um truque, como bem sabem os psicanalistas.
Outra porta para o inconsciente são os atos falhos. Um amigo pode nos pedir um dinheiro emprestado e prontamente o ajudamos lhe entregando um cheque. Um cheque que não é compensado no banco, porque “sem percebermos” , foi preenchido com a data do ano anterior. Então será que estávamos mesmo dispostos a emprestar-lhe o dinheiro ?
Outra porta para acessarmos o inconsciente são desenhos, os mais famosos são os testes da árvore, da casa, da família…. Existem também outros métodos, como o teste de Rorschach, mais conhecido como “teste do borrão de tinta”, em que cada um interpreta o que entende que é aquele desenho.
O Processo Psicanalítico é muito rico, temos um inconsciente a ser desvendado, uma riqueza interior oculta que merece ser trazida à luz para que compreendamos melhor quem somos, por que nos incomodamos com alguns fatos ou pessoas, por que algumas situações nos dão prazer, por que ainda não vencemos nosso maior inimigo. Quem ? Nós mesmos. Como bem nos lembrou Sócrates : “Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio”.