Escrevo estas linhas sob as emoções da perda de nosso querido Spock, ou melhor, de Leonard Nimoy. A confusão é proposital, porque são poucos os que conseguiram a proeza de confundirem o personagem com seu intérprete. Contamos nos dedos : Chaplin e Carlitos, Peter Sellers e o Inspetor Clouseau da Pantera Cor de Rosa, Leonard Nimoy e Spock e para fazermos jus aos nossos heróis nacionais, Mazzaropi e Jeca Tatu, como bem lembrou meu marido, grande fã de Spock.
Spock era a parte lógica do trio ao qual pertencia, junto com o médico Bones e com o Capitão Kirk. Hoje estudando psicanálise, poderia fazer o paralelo entre id, ego e supergo neste famoso trio, onde Kirk seria o id, movido pela aventura e por suas emoções, Bones o ego representando a realidade, e Spock o superego, a lógica, o sensor.
Quem acompanhou todas as séries de Star Trek (clássica, desenhos animados, Nova geração, Deep Space Nine, Voyager, Enterprise  e mais recentemente o remake da série clássica para o cinema), sabe que Star Trek sempre se propôs a grandes reflexões filosóficas. Mais tarde, incentivados pelo grande sucesso de Star Wars para o cinema, as séries migraram para a telona com filmes memoráveis – não posso deixar de mencionar  que o primeiro filme lançado em 1979 é de uma profundidade absurda, quem não assistiu, merece ir atrás deste grande filme.
E falando especialmente da série clássica, vamos acompanhando a evolução de Spock, um ser meio Vulcano e meio humano (sua mãe é terráquea e por isso suscetível às emoções) que vai se humanizando cada vez mais ao longo da série. Sua saudação “Live Long and Prosper”  deixou uma marca registrada a um personagem tão intrigante, que por muitas vezes não compreendia as piadas dos humanos ou as decisões aparentemente impróprias feitas por seu capitão Kirk, quando Spock  diz : “As necessidades de muitos se sobrepõem às necessidades de poucos” e é imediatamente corrigido por Kirk : “As necessidades de um se sobrepõem às necessidades de muitos” numa circunstância em que desejava salvar a vida do amigo.
Meu marido e eu tivemos a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente quando ele esteve no Brasil em 2003. Ele trazia um sorriso no rosto que não era comum para nós, por conta de Spock. Respondeu a todas as perguntas, contou qual foi sua inspiração para o gestual que acompanha a famosa frase “Live Long and Prosper” e ainda se dispôs a dar autógrafos pra toda aquela multidão com alegria e boa vontade.
Lembrei-me agora dos dois livros que ele escreveu “Eu não sou Spock” e logo depois “Eu sou Spock” – demonstrando mais uma vez a simbiose entre criador e criatura. Como foi bom tê-lo como Spock. Como é bom vê-lo ser lembrado com muito carinho por todos os seus fãs…
Nesta última 6ª. feira, quando Nimoy nos deixou, acompanhei com comoção o que muitos disseram sobre a partida de Nimoy/Spock. Não sei se ele poderia imaginar que o Presidente Obama iria se pronunciar e nem sei se nós brasileiros, esperávamos que no Jornal Nacional William Bonner e Renata Vasconcelos  iriam homenageá-lo em rede nacional.
Lamentei sua partida como uma fã um pouco tardia da série, pois só fui de fato conhecer a série quando comecei a namorar meu marido há 15 anos e ele me apresentou a este mundo tão extraordinário e interessante que é o mundo da ficção científica. Antes disso, Spock era para mim um homem de orelhas pontudas, o que me fez prontamente imaginá-lo como o vilão da história.
Sinto sua partida com certo pesar, pois agora sei que ele não mais nos brindará com seu grande personagem, e não mais nos surpreenderá, como o fez no 2º filme do remake de 2013, quando sua aparição me causou um misto de susto e alegria, pois o spoiler de que ele estaria neste 2º. filme não chegou até mim antes de eu assistí-lo.
Leonard Nimoy foi um herói pra mim. Seu personagem Spock é um exemplo de conduta, ética e disciplina. Meu coração está saudoso mas feliz, pois ele nos deixou um grande legado.
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