Para quem assistia a série clássica de Jornada nas Estrelas, havia uma frase muito recorrente do médico Magro : “Eu sou um médico, não sou um engenheiro !”. Peço licença à série para dizer : “Sou uma terapeuta, não uma marqueteira !”.

Faço atendimentos como Coach, Psicanalista, Terapeuta de Casais e Analista Junguiana há quase 15 anos e ultimamente tenho visto, com muito pesar, o quanto esta bagagem de anos de estudos e experiências tem sido negligenciada em favor de influencers e blogueiros que nunca estudaram – ou estudaram muito pouco – mas que têm um impressionante número de seguidores e se sustentam de achismos e números de súditos crescentes, com pouco embasamento teórico e muito marketing bem feito. Hoje não basta ser uma boa terapeuta, me dizem os marqueteiros que me procuram para oferecer seus trabalhos, “você precisa saber se vender”.

Seria inocência minha desmerecer o alcance das redes sociais ou mesmo ignorar a força destas para a divulgação de meu trabalho. Muito já se falou e ainda se fala sobre “o bem e o mal” das redes sociais. Muitos aplicativos são desenhados para que gerem um uso tentador que posteriormente levará a um vício em seu consumo – as “bets”, os jogos do Tigrinho e similares estão aí e validam minha afirmação.

O que trago aqui para reflexão é como nossa saúde mental está sendo subestimada. Pessoas que seguem canais de influencers acreditando que ali encontrarão uma cura rápida para seus males, como ansiedade, depressão, entre outros. Aplicativos de Inteligência Artificial que se propõem a aconselhar e aconchegar quem partilha suas dores, angústias e tristezas. Em resumo : pessoas que buscam agilidade para resolução de seus problemas emocionais sem se darem conta de que o buraco é muito mais embaixo e pode envolver traumas, complexos, dores escondidas em nosso inconsciente e abafadas no dia a dia por uma rotina cada vez mais demandante e estressante.

Vivemos numa sociedade doente. Não comemos bem, nem em relação á qualidade dos alimentos (cheios de agrotóxicos, processados e conservados artificialmente) e nem em relação ao tempo dedicado às refeições, muitas vezes corridas e pouco saboreadas. A pressa no comer, a alimentação baseada em salgadinhos ou lanches e a falta de uma comida de qualidade cobra seu preço.

Não dormimos bem, seja por poluição sonora, seja por estarmos viciados nas telas ou por termos insônia com as preocupações do dia a dia, que invadem nossos sonhos e nosso horário que deveria ser o mais sagrado : o de uma noite de sono bem dormida.

Não respiramos ar puro. Não nos relacionamos com as pessoas que realmente importam em detrimento do trabalho ou de tarefas infinitas que estamos sempre por cumprir. Alguém já disse que a internet aproxima os distantes e afasta os que estão próximos. Cena comum do dia a dia, vejo nas redes sociais o que acontece com minha amiga que mora em outro país, mas não convivo com meu vizinho. Ir a restaurantes e bares e ver todos da mesa em seus celulares isolado em seu mundo particular, sem interagir com os que estão sentados na mesma mesa é considerado normal. Ninguém se espanta mais com esta triste realidade.

Meus pacientes me relatam a decepção com aplicativos de encontros como o Tinder. A qualidade das pessoas não importa, importam sim fotos de boa resolução, produções espetaculares, a forma mais importante que o conteúdo. Os filmes já retrataram relações amorosas de pessoas e máquinas. Já existem pessoas apaixonadas por bots de inteligência artificial, para meu espanto.

Sair às ruas em determinados horários e locais é tão inseguro que me lembro da frase de Renato Russo : “Os assassinos estão livres, nós não estamos”.

Pessoas sedentárias têm se multiplicado em nível exponencial. Por falta de tempo, preguiça e comodismo, ficar no sofá parece ser a melhor opção. A pandemia acelerou um processo que já havia se iniciado antes dela : cursos online em oferta cada vez mais acentuada, inibindo assim o convívio social, a troca entre os diferentes, a tolerância com as diferenças, fomentando cada vez mais o egoísmo e a individualidade.

Poderia continuar elencando aqui os infinitos motivos de vivermos numa sociedade doente. Mas meu alerta é para que você cuide de sua saúde mental, não a negligencie, não a coloque em último lugar. Há muito que fazer terapia deixou de ser um tabu, quando era interpretada como coisa para loucos e doentes. Talvez seja melhor dizer que doentes estamos todos nós, há muito tempo. Carentes de afeto, de relações verdadeiras, de amizades sinceras, de poder confiar nas pessoas ao nosso redor. De termos propósitos de vida nobres e não apenas seguirmos vivendo, deixando a vida nos levar.

Não se furte de procurar ajuda se não estiver bem. Invista uma hora de sua semana – é muito pouco mas é o mínimo – para você. Faça terapia, reflita sobre sua existência, lamba suas feridas, enfrente suas angústias e tristezas, procure relacionamentos de maior qualidade, cerque-se de pessoas com valores próximos dos seus. A maior sabedoria que existe é a de conhecer-se a si próprio, bem disse Galileu.

Desconfie de influencers e blogueiros que buscam somente audiência para engordar seu bolso e se informe de bons profissionais que através de uma terapia de qualidade, podem te auxiliar a viver um vida mais plena e feliz.

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