Semana passada sonhei um sonho que me remeteu à minha adolescência. Na verdade o sonho fazia uma ligação entre meu passado recente e minha adolescência. Foi um sonho psicanaliticamente falando, muito rico, cheio de simbologias, conexões, interpretações… mas o que este sonho me fez refletir é : somos tudo o que podemos ser ?
Uma das minhas séries favoritas é Anos Incríveis, com o inesquecível Kevin Arnold e suas descobertas. Tenho vários episódios favoritos, mas um deles é sobre sua aula de piano. Neste episódio, Kevin estuda piano e se propõe a estudar com afinco para uma audição que a professora marcou para dali algumas semanas. E assim o vemos estudando no piano enquanto seu amigo Paul o chama para jogar – e ele nega. Vemos seu irmão tentar distraí-lo, mas a concentração do Kevin é maior. Vemos ele não almoçar, não jantar, abrir mão de tudo para estudar aquele Cânone de Pachebel. E vemos sua evolução nos estudos, o encantamento de sua família com sua linda melodia.
Até que chega o dia do ensaio da audição com todos os alunos da professora reunidos. Para seu espanto, o aluno mais metido e mais almofadinha iria apresentar justamente a mesma composição que a sua, o Cânone de Pachebel. Kevin, nitidamente abalado, erra várias notas, perde o ritmo e volta pra casa apavorado.
Claro que no dia da apresentação ele não foi. Claro que naquela época ele não soube compreender o que a professora de piano queria lhe mostrar : que existem várias maneiras de se tocar a mesma música. Umas mais rígidas, tecnicamente perfeitas, outras mais humanas, com características próprias de seu intérprete, como era o caso do Kevin Arnold.
Mas no dia da apresentação vemos Kevin em frente á casa da professora enquanto a audição acontece lá dentro. Ele viu seu rival tocar a mesma música que ele… e foi embora. Me tocou muito este episódio, porque na verdade Kevin era capaz de tocar tão bonito quanto o aluno almofadinha, certamente com mais emoção do que o outro rapaz, mas ele desistiu… Não viu que a riqueza estava na diferença, viu sim que não era perfeito, não era tecnicamente tão capaz quanto o outro, e assim, não descobriu tudo o que poderia ser naquele momento.
Em nossa vida nos deixamos intimidar por colegas de trabalho, por chefes, por pais autoritários, por familiares maldosos ou por falsos amigos ? Acreditamos em nosso potencial ? Entendemos o por quê de nossas limitações, qual o componente emocional ali envolvido ?
Um simples sonho me fez repensar sobre tudo isso, reviver o episódio do seriado com as reflexões da época e com algo mais. Com mais anos vividos, mais bagagem nas costas…
Será que somos tudo o que podemos ser ?