Tenho visto muitos casais que trabalham juntos. O início da história acontece geralmente de duas maneiras. Na primeira, o casal já se conhece, mas ainda não tem um relacionamento amoroso. Quando surge o relacionamento, o que era antes somente um relação profissional torna-se também uma relação afetiva. No 2º. caso, o casal já se conhece e resolve trabalhar junto, pois ambos acreditam que a afinidade que possuem pode também ser vivenciada no ambiente profissional. Independente do início da história, cabe aqui uma pergunta para reflexão : é possível conciliar amor e trabalho ?
Vamos analisar o que comumente se espera de um relacionamento afetivo : amor, respeito, compromisso, dedicação, objetivos em comum, valores semelhantes, tolerância, flexibilidade, entre outras coisas.
E o que se espera de uma relação profissional : respeito, compromisso, dedicação, tolerância, flexibilidade… se pararmos para refletir, com exceção do aspecto sentimental e de um horizonte maior de tempo na expectativa da relação afetiva, não há muita diferença entre o que se espera de uma boa relação profissional e de uma boa relação sentimental.
Se em um caso há o papel de marido/mulher (ou parceiro/parceira, namorado/namorada em várias combinações), no outro há o papel do profissional, algumas vezes do chefe e do subordinado também.
Empresas médias e grandes têm diferentes políticas em relação ao casal que partilha o mesmo ambiente de trabalho. Algumas toleram que isso ocorra, desde que um não seja subordinado ao outro, outras empresas apenas exigem que os departamentos de atuação de cada um sejam diferentes e outras ainda, não aceitam de forma alguma que um casal partilhe o mesmo local de trabalho, mesmo que seja somente a mesma empresa, em departamentos distintos.
Já em empresas menores, a aceitação sobre um casal dividir o mesmo local de trabalho é feita com maior naturalidade, isto quando não são os dois que fundaram a empresa.
Mas existe um segredo em não confundir os dois papéis quando eles se encontram : uma certa dose de cerimônia.
Porque é muito fácil observarmos que um casal pode se permitir um tratamento mais áspero e menos tolerante, pois confundem seus papéis profissionais e sentimentais. Tenho relatos de casais que quando divergem em sua vida particular, levam o problema para a empresa, extrapolando assim o que seria um problema particular, tornando-o público. Mas também tenho relatos de casais que têm uma parceria muito bem sucedida profissionalmente, pois tiveram maturidade o suficiente para não levar os problemas de casa para o trabalho.
Devo dizer que o oposto também ocorre, quando o casal leva seu problema profissional para a casa, ou mesmo não se desliga do ambiente de trabalho quando chega em casa, mas esta situação é menos difundida, pois é tratada no ambiente íntimo e não no ambiente aberto da empresa.
Voltando à certa dose de cerimônia, quando ela existe – e junto com ela a maturidade – o casal compreende que não pode e não deve confundir um papel com o outro. Assim, no ambiente de trabalho cobra-se apenas o que se espera profissionalmente do outro, e não o que ficou mal resolvido num momento de lazer do final de semana.
Então é possível não deixar que os problemas de casa influenciem na empresa e vice versa ? Acredito que sim. Quanto maior for a maturidade do casal para não confundir as questões, quanto maior a empatia do mesmo, a compreensão de que o ambiente de trabalho e seus problemas ficaram no escritório e que os problemas de casa ficaram em casa, maior a chance de sucesso.
Uma coisa que tenho visto que funciona muito bem é quando os dois definem perfeitamente qual a área de atuação de cada um, e mantém o respeito sobre a decisão do outro. E manter o respeito sobre a decisão não é só aceitar o que o outro decidiu, mas também conversar com sabedoria sobre o problema, partilhando com o outro qual pode ser a melhor decisão para ambos.
Por exemplo, se um é do departamento financeiro e está com as contas atrasadas e o outro é do departamento de compras e não consegue colocar novos pedidos, de nada adianta um acusar o outro de que sua área está sendo prejudicada por uma decisão unilateral. É muito mais sábio que ambos conversem desarmados, em busca de uma solução que poderá ser boa para ambas as partes : podemos reduzir nosso estoque e assim girar o mesmo num prazo mais curto, empatando assim menor capital ? Podemos fazer uma oferta para alavancarmos as vendas ? Podemos negociar com o fornecedor um prazo maior de pagamento ? Neste simples exemplo, cada uma vai entrar com o que sabe fazer melhor : o financeiro fará contas, o departamento de comprar fará negociações, e ao invés de um apontar o dedo para o outro como culpado do problema, ambos trabalharão unidos para o bem maior, que é o da empresa.
Existe um sábio ditado para os relacionamentos afetivos : “Eu não quero ganhar, eu quero é ser feliz”. Esta máxima, quando bem empregada no ambiente profissional por um casal, pode fazer toda a diferença, não só para ambos, mas para todos que compartilham daquele ambiente profissional com o casal.