Eu tive um terapeuta Jungiano maravilhoso, Jorge Berard era seu nome, que ao me ver aflita com a minha necessidade de ter que escolher qual curso seguir na faculdade, me disse esta pérola do poeta sevilhano Antonio Machado : “caminante, no hay camino, se hace camino al andar”. Aquilo me intrigou, pois se eu deveria escolher um caminho, uma carreira a seguir, como é que não havia caminho, e que eu faria meu caminho simplesmente seguindo adiante ?

Mas analisando melhor a frase, eu logo a compreendi. Compreendi desde pequena que tudo que fazemos gera consequências. Que quando magoamos alguém, este alguém chora. Que quando alguém nos dá um presente, nós sorrimos. Lembro quando eu era pequena e não queria mais comer, minha avó querida me dizia : “Come tudo pra deixar a vovó feliz”. Impossível não raspar o prato com aquele pedido tão singelo de uma pessoa tão querida, afinal eu sempre queria deixar minha avó feliz.

E assim os anos foram se passando, eu fui seguindo e fazendo meu caminho. Na verdade, desde pequena eu já fazia meu caminho, quando por exemplo escolhi estudar piano e não violino, ou inglês ao invés de alemão, e assim por diante…

Fiz faculdade, fiz muitos amigos, me encontrei filosófica e espiritualmente, casei, vi pessoas queridas morrerem, outras nascerem, vi fatos marcantes da nossa época : a queda do muro de Berlim, o ataque ás Torres Gêmeas, o surgimento da internet, que hoje carregamos na palma da nossa mão.

Não sou tão velha assim, diga-se de passagem, mas acumulei vivências, experiências, testemunhei eventos, e por isso, me encantei quando já bem mais velha, li esta frase do Steve Beckman : “Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”.

Lá estava o “caminante” de novo, com outra roupagem, desta vez dizendo que aquele caminho que não havia e que eu o construiria, era resultado de muitas escolhas minhas, e que estas escolhas me fizeram quem sou hoje.

Realmente, deu muito trabalho eu ser quem sou hoje, assim como para todos nós : nascemos, convivemos, passamos por adversidades e felicidades, fazemos escolhas, conhecemos novas pessoas, novas matérias, novas teorias, nos intrigamos…e tudo isto faz de nós quem somos.

Somos especiais simplesmente por sermos únicos. Minha experiência de vida não é igual à sua, e apenas para reforçar o clichê, “nem gêmeos univitelinos são iguais”. Ser quem somos deu trabalho, no sentido de vivências, de dúvidas, de amores, de desilusões… e também de conquistas, de batalhas, de desafios que nos impomos e que só nós sabemos o quanto têm um sabor especial quando alcançados. .

Quando vejo alguém triste, deprimido, sem rumo, desiludido (e olha que não nos faltam motivos para nos desiludirmos com este mundo mesmo !), fico pensando no quanto aquela pessoa é especial, quais os caminhos que ela trilhou na vida, quais foram as suas escolhas que resultaram numa pessoa naquele estado naquele momento. E me lembro, com muita alegria e esperança, que tudo depende dela mesma, que é ela quem pode dar seu primeiro passo para sair daquele estado e mais ninguém. Mas que as pessoas ao redor – eu, você, o porteiro, o vizinho – podemos dar a nossa contribuição para isso, mostrando pra ela através de gestos, palavras, exemplos, e até de artigos como este, que vale muito a pena viver.

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